Fernando Pessoa foi alfabetizado em inglês e viveu os anos de transição da infância ao início da adolescência na África do Sul, onde recebeu uma educação britânica. Seus primeiros textos literários foram escritos em inglês. É irônico pensar que esse menino seria, um dia, um dos mais importantes escritores da língua portuguesa. Um de seus maiores amantes. Defensores. Pessoa sentia em português. Vivia, sofria, amava e queixava na língua da mãe. Passou o resto da vida em Portugal, onde escreveu “Tabacaria”, “Mensagem”, “O Livro do Desassossego” e disse, com quase todas as palavras do nosso idioma, quase todos os males da alma de seu tempo e além – os males humanos de todos os tempos. Em um de seus escritos, chegou a afirmar: “A minha pátria é a língua portuguesa”.
Suas últimas palavras, ao morrer, porém, o aproximaram daquela infância na África do Sul. Pessoa, o grande poeta da língua lusitana, instantes antes de partir para o desconhecido, teria pedido seus óculos e escrito a lápis: “I know not what tomorrow will bring”. Talvez, para os que migram, as dúvidas e o desconhecido soem sempre em um idioma estrangeiro.
Will G.S.G. é escritor, poeta e vários etc., artista colaborador da Brasil Auê em Barcelona.